Pensei em publicar este texto no Oraculares, mas creio que
tende mais ao lado pagão da coisa...
Arthur, seu lindo! |
Então, é isso aí, terminei As Brumas de Avalon, de Marion
Zimmer Bradley. Não, não vou fazer resenhas ou resumos ou criticar; apenas
expor percepções já adquiridas por volta de 2007, quando li o primeiro volume e
tive de parar a leitura da série, mas assisti ao filme (pela primeira vez). E
dentro destes quase cinco anos, minha percepção a respeito da obra – e o valor
dela, não mudou. Talvez apenas tenha tomado mais forma.
Lembro então de repetir o primeiro comentário que me passou
à cabeça após assistir o filme: Tudo ocorreu como devia e a vontade da Deusa é
cumprida.
E eu disse isso a uma garota com quem tinha contato na época
e ela logo deu o piti: “O quêêê?! Tudo foi perdido! Avalon se perdeu nas
Brumas! Como você pode dizer que tudo correu bem? Que a vontade da deusa
aconteceu?!”. Eu tentei explicar. Um ou dois minutos. Mas como era caso
perdido, deixei pra lá. É possível entender todo o desfecho das Brumas de
Avalon, já no primeiro livro e entender o mais importante: Qual era a vontade
da Deusa.
Minhas percepções antes ou depois da obra - incluindo o
filme - não mudaram. A lição ali sobre futuro, vontade dos deuses e tudo o mais
pode ser facilmente entendida através da Mitologia Grega. E até o livro mesmo
dá as dicas.
A primeira coisa, até óbvia, é de entender que os homens
sempre tiveram a pretensão de saber o futuro destinado e de outras coisas
sagradas ou espirituais sem estarem preparados. E é morte tocar nas coisas
sagradas sem preparação.
Queremos saber do futuro muitas vezes sem a devida preparação
– seja em poços, templos ou em cartas de tarô. Preparação para entender,
aceitar, modificar se for possível ou mantê-lo à nossa frente.
Muito provavelmente, se a pessoa for a um taromante e previr
uma desgraça em sua vida, sairá dali enlouquecido fazendo tudo para impedir, e
esta desgraça cairá da mesma maneira que foi descrita. Mas se ver uma
benfeitoria, um ganho da mega sena ou um novo emprego, capaz de apenas voltar a
sua casa e dormir até que algo aconteça e esta não acontecerá. Então poderá
ficar horrorizado e com temor do taromante por ter aceitado tal desgraça ou
perder a fé em quem leu, pois nada aconteceu. Num meio termo, poderia ver algo
ruim, não fazer nada para impedir e esta de fato acontecer.
Quando se move ou não é uma questão para você e sua mente em
tal situação. Aqui levanto o fato da despreparação e falta de entendimento
quanto ao futuro e como ele se movimenta ou não.
A história de Édipo Rei, sem dúvida é uma das que
exemplifica o que digo. Se o pai de Édipo não tivesse se revoltado aos deuses,
teria a profecia se cumprido? Os deuses teriam porque fazer tal coisa? Mas
quando sua revolta começou? Ao procurar o oráculo talvez.
Não digo em nenhum momento que é errado querer saber de
nosso futuro. Somos curiosos, ansiosos... Queremos uma palavra para nos acalmar,
uma luz para guiar-se. O divino nos entende, sabe disso e nos manda. Mas e
quando nossa atitude é leviana? Tentativa de provar algo, de saber mais do que,
poderia dizer deus, mas fiquemos com aquele que lê as cartas. Ou ainda, o
professor da escola ou chefe da empresa... Quantas vezes a auto-afirmação, a
leviandade, a mera curiosidade bate a porta? O que você faz com as informações
que adquiri?
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
É morte tocar as coisas sagradas sem preparação. Morte da
oportunidade, da mudança, da transformação. Morte do livre arbítrio, do poder
de escolha, do senso crítico. Quiçá, em casos mais extremos, de nossas próprias
vidas, gradativamente.
Não restrinjo tal pensamento apenas ao futuro ou aos
oráculos, abrange também qualquer coisa em que nós, com nossos dedos
apressados, puxamos o espiritual para nossas vidas, na leviandade de dizer e
afirmar para si mesmos como temos poder sobre tudo (ou todos).
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
É morte tocar as coisas sagradas sem preparação.
Ao procurar um oráculo, o que você cativa? Qual é sua
preparação? Que tipo de pessoa você é?
Por que você acha, que na entrada do Templo de Delphos está
escrito:
“Conhece-te a ti mesmo”?
Com amor,
Sophia.